Maniac, onde o único lugar real é a Mente Humana

Saúde Mental na série Maniac.

Esta série de apenas 10 episódios criada e escrita por Patrick Somerville (The Leftovers) e dirigida por Cary Joji Fukunaga (True Detective) é tudo menos uma série das mais comuns. “Maniac” é sobre uma espécie de droga psicoativa experimental e fala de condições psicológicas como depressão, culpa, esquizofrenia e ansiedade, além de conflitos familiares, trazendo reflexões sobre a saúde mental.

Enredo

Ambientada em uma cidade retro futurista de Nova York, parecida com a Nova York atual, mas não é, onde humanos se alugam devido condições financeiras, enquanto robôs jogam xadrez no parque, mini robôs captam cocô de cachorro e encontramos algumas empresas curiosas como Ad Buddy e Friend Proxy.

O cenário é um teste farmacêutico de um medicamento psiquiátrico. A sala de teste é como o interior de uma nave espacial da década de 1970. Seus personagens principais, Owen (Jonah Hill) e Annie (Emma Stone), sofrem de doenças mentais e, embora seus diagnósticos não sejam o foco principal, ambos buscam viver uma vida normal enquanto lutam contra seus respectivos demônios internos. É importante citar que Maniac é vagamente baseado em uma série norueguesa com o mesmo nome, sobre os delírios de um paciente psiquiátrico, Walter Mitty, que foi amplamente ambientado em uma ala psiquiátrica.

Alucinações

A série atinge seu ápice a partir do 4º episódio da temporada, quando Annie, Owen e os outros sujeitos de um ensaio farmacêutico misterioso falam através de suas alucinações alimentadas por drogas, ou “reflexões” como são chamadas no programa, pelo cientista encarregado de seu estudo, o Dr. James K. Mantleray (Justin Theroux).

Tratamento

O tratamento a que Owen e Annie se submetem, traz promessas de “consertar” os cérebros de seus sujeitos com a ingestão de apenas três pequenas pílulas: A, B e C, administradas sequencialmente ao longo de três dias e que forçam os sujeitos a devaneios inconscientes. A droga A faz com que os indivíduos ensaiem seus traumas, a droga B os leva a uma série de “reflexões” que exploram sua arquitetura emocional através de tramas fantásticos e a droga C provoca “confronto”, o que supostamente ajuda os sujeitos a romper suas restrições psicológicas.

Crise de "Gertie"

Durante todo o processo, os sujeitos são guiados e analisados pelo computador GRTA, apelidado de “Gertie”, o problema com Gertie é que ela foi programada para sentir empatia e, portanto, como os humanos que está monitorando, ela se depara com sua própria crise emocional e acaba administrando mal os julgamentos.

Reflexões

Maniac me fascinou especialmente pela maneira como trouxe o tema Doenças Mentais e como nos leva a refletir sobre muitas questões atuais como consciência, tecnologia, capitalismo, grandes empresas farmacêuticas, saúde mental, dependência, corrupção e poder.

Podemos pensar em inúmeras histórias (reais ou fictícias) que lidam com a experiência de viver com doenças mentais e em busca de cura. E esse desejo desesperado de melhorar, de ser normal (mas que sofre frustrações repetidas de sua mente) é generalizado em todo o mundo, mesmo que não falemos muito sobre isso. Hoje chamamos isso de medo existencial ou crise de meia-idade, depressão, ansiedade, fobias sociais ou transtornos mentais. Há uma ou duas gerações, o mal-estar geral e a aversão às normas e regras sociais e culturais tradicionais eram suficientes para que você fosse institucionalizado.

Complexidade das Doenças Mentais

Não se trata aqui de banalizar as doenças mentais, o personagem Owen é esquizofrênico e parou de tomar seus remédios, a personagem Annie está automedicando sua depressão abusando da pílula A do ensaio clínico. Seus problemas de saúde mental são evidentes e complexos.

Ferramentas para Ajuda

O que gostaria que refletíssemos com esse artigo é que não há narrativas suficientes para nenhum de nós, sejam as pessoas que enfrentam traumas evidentes ou aquelas cujas mentes simplesmente não se sentem bem, por qualquer motivo. Ainda há estigma em torno de procurar tratamento, psicoterapia e medicação, quando ao final do dia essas são apenas algumas das ferramentas à nossa disposição para ajudar-nos a viver vidas mais felizes, saudáveis, mais equilibradas e produtivas, melhorara a nossa saúde mental. Não ter acesso a essas ferramentas ou não se sentir capacitado para usá-las é uma das razões pelas quais as pessoas se automedicam, tanto com drogas quanto com álcool, mas também de inúmeras outras maneiras sutis e às vezes tóxicas.

Importância do Tema

Saúde Mental é um tema que eu realmente acho interessante ser retratado em séries e filmes, principalmente a questão do que é normal, e a ideia de que todos nós estamos sempre lutando com alguma coisa internalizada em nós mesmos. Em Maniac isso está presente durante todo o enredo e se espalha por todos os personagens não apenas Owen e Annie, temos o sofrimento do personagem Dr. Azumi Fujita (Sonoya Mizuno) e a parafilia apresentada pelo personagem do Dr. Mantleray que também traz os problemas de relacionamento com a mãe e até o conflito emocional do Robô “Gertie” apresentam a dinâmica da necessidade desta reflexão.

Maniac é uma série que realmente desperta interesses e curiosidade em psicólogos, psiquiatras, profissionais de saúde mental e todos aqueles que gostam de tramas que envolvem questões psicológicas e familiares, saúde e doença mental, transtornos de personalidade e que tratem de tecnologia e inteligência artificial.

Embora o normal possa ser igual ao bem-estar mental, na série Maniac conclui-se que ser “normal” é impossível e indesejável, pois os personagens terminam por aceitar suas peculiaridades.

“A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura,
pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.”

Michel Foucault

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